A nova EPR têxtil da UE vai pesar no caixa. Quem agir agora paga menos e reduz riscos.

O que muda para marcas e fabricantes com a EPR têxtil

A Responsabilidade Estendida do Produtor (EPR) para têxteis, aprovada no âmbito da revisão da Diretiva-Quadro de Resíduos da União Europeia, transfere às marcas o custo de coleta, triagem e reciclagem de produtos têxteis colocados no mercado europeu. A regra abrange roupas, acessórios, calçados, roupas de cama e banho, cortinas e similares, incluindo vendas por comércio eletrônico e empresas estabelecidas fora da UE que vendem para o bloco.

Dois prazos norteiam a adoção: países têm 20 meses para transpor a diretiva ao direito nacional e 30 meses para estabelecer esquemas EPR operacionais. As taxas serão moduladas conforme critérios de circularidade, como durabilidade, reparabilidade, reciclabilidade e conteúdo reciclado. Em termos práticos, quem comprovar melhor desempenho circular pagará menos por peça.

Dados confiáveis, DPP e a prova de circularidade

O Passaporte Digital do Produto (DPP, na sigla em inglês), previsto pelo regulamento de Ecodesign para Produtos Sustentáveis (ESPR), é o caminho para organizar dados de produto e viabilizar a modulação de taxas na EPR. A ESPR entrou em vigor em julho de 2024 e a UE espera padrões harmonizados para DPP até o fim de 2025, com o primeiro ato delegado para têxteis estimado para 2026. Isso significa que as marcas precisam preparar desde já atributos como composição de materiais, durabilidade, instruções de reparo, conteúdo reciclado, restrições químicas e evidências de pós-consumo.

Além de especificações técnicas, a chave é comprovar a circularidade com evidências verificáveis: comprovantes de coleta, triagem e reciclagem, vinculados ao item ou lote correto e auditáveis por terceiros (organizações gestoras, auditores e autoridades). Tecnologias de registro imutável, como blockchain, podem adicionar trilha de auditoria confiável a esses eventos, reduzindo disputas sobre elegibilidade de reduções de taxa e acelerando o assurance.

Para evitar retrabalho, o DPP precisa ser interoperável: capaz de integrar dados do ERP, PLM e sistemas de parceiros (coleta/triagem/reciclagem) e de exportar informações para esquemas EPR e relatórios de sustentabilidade. O objetivo é ter um único repositório de dados de produto que atenda, ao mesmo tempo, exigências regulatórias e expectativas de transparência do consumidor.

Impacto no caixa: como as empresas brasileiras podem reduzir custo por peça

Exportadores brasileiros que colocam produtos no mercado da UE estarão sujeitos às taxas EPR. O impacto financeiro varia por país e por produto, mas três vetores determinam o custo por peça: o design (durabilidade, monomateriais, facilidade de desmontagem), o conteúdo de materiais (reciclado/reciclável) e a qualidade das evidências de circularidade apresentadas ao esquema EPR.

Um roteiro prático para os próximos 90 dias ajuda a reduzir o impacto e acelerar a conformidade:

  • Diagnóstico regulatório e de portfólio: mapear países-alvo, categorias cobertas e lacunas de dados por SKU. Priorize volumes e risco regulatório.
  • Plano de dados para DPP: definir atributos críticos (composição, rotulagem, reparo, durabilidade, reciclabilidade) e fontes confiáveis. Estabelecer governança e owners de dados.
  • Piloto com cadeia de fim de vida: selecionar 1–2 linhas de produto e integrar parceiros de coleta, triagem e reciclagem; testar a captura de evidências (coleta → triagem → reciclagem) com trilha de auditoria.
  • Integrações e automação: conectar ERP/PLM e notas fiscais aos passaportes digitais; automatizar a geração/atualização de DPP e relatórios para esquemas EPR.
  • Eco-modulação orientada a dados: simular taxas por cenário de design (ex.: troca de mistura de fibras por monomaterial), priorizando mudanças que tragam maior redução de custo por peça.

Além do custo, o preparo antecipado reduz o risco de penalidades por não conformidade e acelera auditorias. A mesma base de dados que sustenta a EPR também facilita a prestação de contas em padrões internacionais de reporte de sustentabilidade (por exemplo, os ESRS – European Sustainability Reporting Standards – e o ISSB – International Sustainability Standards Board), garantindo consistência entre o que é declarado e o que pode ser verificado.

Tendências, cronograma e o que vem a seguir

A convergência regulatória é clara: a EPR têxtil se soma ao DPP sob a ESPR e à diretriz de alegações ambientais na UE, elevando o sarrafo para dados verificáveis e combatendo greenwashing. Países devem publicar regras nacionais nos próximos 20 meses e colocar os esquemas em operação em até 30 meses. É provável que a modulação de taxas valorize cada vez mais durabilidade, reparabilidade e design para reciclagem. Também se espera evolução dos padrões técnicos do DPP até 2025/2026, com maior foco em interoperabilidade e segurança de dados.

Para as empresas brasileiras, a mensagem é pragmática: quem organizar desde já seus dados de produto, pilotar a captura de evidências de fim de vida e ajustar o design com base em simulações de taxa chegará à frente. A preparação não é apenas de compliance; é alavanca de competitividade, pois reduz custos recorrentes, encurta ciclos de auditoria e fortalece a confiança do consumidor e dos varejistas europeus.

Em síntese, a nova EPR têxtil desloca valor para quem tem dados de qualidade e prova concreta de circularidade. A base tecnológica ideal combina DPP interoperável, integrações com sistemas legados e trilha de auditoria robusta para eventos de coleta, triagem e reciclagem.

Para empresas que buscam acelerar essa jornada, tecnologias como o Passaporte Digital do Produto da Blockforce, baseado em blockchain, ajudam a centralizar atributos de circularidade e vincular evidências auditáveis ao produto. Em complemento, os módulos de Compliance e Relatórios ESG da Blockforce oferecem suporte a requisitos regulatórios e integração via API, permitindo consolidar informações de diferentes fontes com rastreabilidade e prontidão para auditorias. Escolher um piloto enxuto, com poucas linhas de produto e parceiros selecionados, é uma forma eficaz de validar o modelo e capturar reduções de taxa logo no início.