Compradores já pedem evidências por SKU. Quem se antecipa garante a venda.
O sinal do mercado já veio: transparência por SKU
Metade dos compradores corporativos já considera trocar fornecedores que não comprovam sustentabilidade de forma clara e auditável. No setor de moda e têxtil, isso significa entregar dados confiáveis por SKU (unidade de manutenção de estoque): origem da matéria-prima, materiais, impactos ambientais e processo produtivo do fio à peça final. Ao mesmo tempo, varejistas europeus começam a exigir esse dossiê em formato padronizado para fechar pedidos e aprovar fornecedores.
O recado é direto: quem não estiver pronto para apresentar um Passaporte Digital do Produto (DPP) consistente, corre risco de perder contratos, margens e previsibilidade de demanda. A boa notícia é que a tecnologia necessária já está madura — combinando blockchain para imutabilidade e auditabilidade, inteligência artificial (IA) para cálculo de pegada de carbono (incluindo Escopo 3) e integrações com padrões GS1 (Global Standards 1) e sistemas ERP (Enterprise Resource Planning) para operar em escala.
ESPR e DPP: requisitos e prazos que impactam moda e têxtil
A ESPR (Ecodesign for Sustainable Products Regulation – Regulamento Europeu de Ecodesign para Produtos Sustentáveis) está em vigor desde julho de 2024 e estabelece bases para tornar produtos mais duráveis, reutilizáveis e recicláveis. Um dos pilares é o DPP, que padroniza as informações de sustentabilidade e circularidade disponíveis ao comprador e ao consumidor.
Para têxteis, o chamado Ato Delegado — que detalhará os requisitos de desempenho e de informação específicos — será publicado no início de 2027. A expectativa, segundo publicações do setor, é de cerca de 18 meses para implementação após a publicação, projetando exigibilidade por volta de meados de 2028. Na prática, as marcas terão que prover dados confiáveis, rastreáveis e interoperáveis para vender no mercado europeu, colaborando com fornecedores dentro e fora da UE para harmonizar práticas e garantir coerência nos dados.
Isso muda o jogo: além de relatórios corporativos, será preciso entregar evidências por produto. Para moda, isso inclui ficha técnica de materiais, origem da fibra e do couro, consumo de água e energia, emissões de gases de efeito estufa (GEE) e, cada vez mais, instruções de circularidade (reparo, reuso e reciclagem). Tudo acessível por QR Code na etiqueta, com trilha de auditoria.
Como estruturar o passaporte digital: blockchain, carbono e integrações
Um DPP eficaz nasce de três camadas que se complementam:
- Camada de dados e governança: modelo de dados por SKU e por lote, catálogos GS1 (ex.: identificação de itens e parceiros), taxonomias de materiais e fornecedores, políticas de atualização e revisão. Metadados de certificações sociais e ambientais entram aqui.
- Camada de rastreabilidade e verificação: captura de eventos da cadeia (NF-e, ordens de produção, romaneios, certificados, inspeções), ancorados em blockchain para garantir integridade, carimbo do tempo e autoria. Essa imutabilidade simplifica auditorias e reduz disputas em RFPs (Requests for Proposal) e fiscalizações.
- Camada de inteligência e publicação: cálculo da pegada de carbono com IA, combinando dados primários dos elos da cadeia com bases de fatores de emissão para estimar Escopos 1, 2 e, sobretudo, 3 (emissões indiretas na cadeia de valor). O resultado alimenta painéis gerenciais e o passaporte digital, publicado via QR Code na peça.
Integrações são o segredo para escalar: conectar o ERP (Enterprise Resource Planning) evita retrabalho e garante que cada mudança de engenharia, fornecedor ou receita de produto reflita automaticamente no DPP. Já os padrões GS1 ajudam a identificar itens, locais e transações de forma consistente em toda a cadeia, reduzindo ruído na coleta de dados e acelerando o onboarding de parceiros.
Roteiro de 8–12 semanas para responder a RFPs e auditorias
Para marcas que precisam avançar rápido, um plano enxuto e focado em risco é suficiente para colocar as primeiras linhas no ar e começar a colher valor.
- Semanas 1–2 — Diagnóstico e escopo: mapeie categorias críticas (por receita e risco), selecione SKUs prioritários (ex.: best-sellers ou exportações para UE) e defina o modelo de dados mínimo viável do DPP. Levante fontes internas (ERP, PLM, compras) e externas (fornecedores, certificadoras).
- Semanas 2–4 — Integração de dados: configure conectores com ERP e cadastros GS1; consolide eventos de cadeia (NF-e, ordens, certificados). Estabeleça responsabilidades por área e um workflow de revisão de evidências.
- Semanas 4–6 — Onboarding de fornecedores: convide fábricas, oficinas e beneficiadores; ofereça formulários simples para dados primários (insumos, energia, água) e instruções de upload de evidências. Priorize os fornecedores com maior contribuição ao Escopo 3.
- Semanas 6–8 — Carbono por produto: rode estimativas com IA para Escopos 1, 2 e 3 por SKU/lote, com revisão amostral e trilha de auditoria. Gere benchmarks internos para direcionar ecodesign e compras.
- Semanas 8–10 — Publicação do DPP: ancore os registros em blockchain, gere QR Codes por SKU e publique páginas do passaporte com dados e orientações de circularidade. Teste a experiência de leitura (lojista e consumidor).
- Semanas 10–12 — Piloto e prontidão para auditoria: execute um piloto em 1–2 coleções, rode checklist de conformidade com a ESPR e prepare um playbook para responder RFPs e questionários de clientes em até 48 horas.
Com esse roteiro, marcas conseguem reduzir risco de churn em contas estratégicas, aumentar share-of-wallet junto a varejistas que priorizam fornecedores “prontos para DPP” e ganhar eficiência em auditorias.
Casos recentes no Brasil mostram que a escala é viável. Programas de rastreabilidade em grandes grupos já contabilizam centenas de milhares de transações em blockchain e centenas de fornecedores mapeados na cadeia do couro, com metas públicas rumo a 2030. Em outro front, iniciativas com algodão agroecológico e coleções de jeans regenerativo já publicam DPP via QR Code diretamente nas peças, com dados de cultivo, tingimento natural e indicadores socioambientais acessíveis ao consumidor. A adoção por grandes varejistas reforça a maturidade do ecossistema.
Para empresas que buscam soluções prontas para essa jornada, há caminhos testados no mercado. Plataformas de rastreabilidade para moda que já integram DPP via QR Code, captura de dados de fornecedores e dashboards ESG reduzem o tempo de implantação e a fricção no onboarding. Em paralelo, calculadoras de carbono com IA permitem estimar Escopo 3 com dados primários (por exemplo, a partir de notas fiscais, insumos e informações fornecidas por produtores), gerando pegadas por produto ou lote com trilha de auditoria — exatamente o que compradores europeus querem ver.
Na Blockforce, experiências em moda e têxtil no Brasil somam milhões de produtos cadastrados e mais de mil fornecedores na base, além de projetos com marcas de referência do varejo. Em couro, por exemplo, programas de rastreabilidade já somam centenas de milhares de transações registradas, demonstrando capacidade de operar com volume, múltiplos elos e requisitos de conformidade (incluindo metas de desmatamento zero e alinhamento a iniciativas científicas de redução de emissões). Esses aprendizados encurtam a curva de adoção para quem precisa acelerar agora.
Para avançar com pragmatismo: escolha uma coleção âncora, conecte ERP e cadastros GS1, comece o onboarding de fornecedores críticos, estime o carbono por SKU e publique o DPP em blockchain com QR Code. Em 8–12 semanas, sua marca já pode responder RFPs com confiança, competir no varejo europeu e transformar compliance em vantagem comercial.
Para empresas que desejam acelerar com tecnologias já validadas, duas abordagens se destacam: a plataforma de rastreabilidade para moda da Blockforce, que entrega o Passaporte Digital do Produto (DPP) via QR Code com dados de origem, materiais, impacto e processo produtivo; e a Calculadora de Carbono baseada em IA, que automatiza os cálculos de Escopos 1, 2 e 3 e gera pegadas por produto ou lote com evidências auditáveis. Ambas podem ser integradas ao seu ERP e aos padrões GS1 para escalar com governança e responder rapidamente a auditorias.