Provar conteúdo reciclado e reduzir emissões deixou de ser diferencial: é credencial de acesso a mercado.
Pressão regulatória e do varejo: prova, não promessa
O setor de plásticos já responde por cerca de 5% das emissões globais de gases de efeito estufa (GEE), enquanto menos de 10% do plástico produzido historicamente foi de fato reciclado. Em linhas com alto teor de poliéster, esse descompasso elevou o risco de greenwashing e acelerou a cobrança por evidências auditáveis: varejistas e reguladores querem comprovação de conteúdo reciclado e pegada de carbono por produto ou lote.
Na União Europeia (UE), a ESPR — Ecodesign for Sustainable Products Regulation — avança para tornar o DPP (Digital Product Passport, ou Passaporte Digital do Produto) requisito em várias categorias, incluindo têxteis. Relatórios de mercado indicam que compliance e reporting devem concentrar quase metade do uso de plataformas de DPP em 2025, e que têxteis e vestuário já representam parcela relevante dessa adoção. A proposta de Green Claims Directive (Diretiva de Alegações Ambientais) também exigirá fundamentação técnica de alegações como “feito com material reciclado”. Tudo aponta para um cenário em que dados primários, rastreáveis e verificáveis serão o padrão.
O que conta como prova de conteúdo reciclado e de emissões
Para sustentar um claim de “conteúdo reciclado”, marcas precisam conectar o produto final a evidências de cadeia de custódia, preferencialmente em nível de lote:
- Registros de fornecedores e transformadores, com notas, ordens de produção e comprovantes que vinculem entradas e saídas.
- Certificações sociais e ambientais aplicáveis ao material e ao processo (por exemplo, padrões reconhecidos no setor têxtil), com validade e escopo claros.
- Modelo de cadeia de custódia declarado (segregação física ou balanço de massa), com trilhas de auditoria consistentes.
- Identificação de lotes e atributos ambientais por etapa, para recompor a “receita” do produto.
Já a pegada de carbono por produto exige combinar dados primários da cadeia (energia, combustíveis, processos, rotas logísticas) com metodologias aceitas, como GHG Protocol (Protocolo de Gases de Efeito Estufa) e Avaliação de Ciclo de Vida (LCA). O ponto crítico é a alocação ao nível de produto/lote: médias corporativas tendem a ser rejeitadas quando a exigência é granular. O cálculo deve cobrir Escopo 1 (emissões diretas), Escopo 2 (eletricidade e calor adquiridos) e Escopo 3 (cadeia de valor, frequentemente o mais relevante no têxtil), deixando claro fatores, fontes e premissas.
Como empresas brasileiras podem se preparar agora
Para quem exporta ou abastece grandes varejistas, a ausência de dados confiáveis já representa risco comercial. Três movimentos práticos aceleram a adequação:
- Mapeamento e padronização de dados: cadastre fornecedores até o nível de fibra e fiação; harmonize campos de notas fiscais, ordens de produção e certificados; defina identificadores únicos de lote.
- Rastreabilidade fim a fim: digitalize o fluxo de comprovações por etapa (entrada de reciclado, mistura, tingimento, acabamento) e conecte o lote final às evidências de origem e processo.
- Inventário e pegada por produto: consolide dados primários da cadeia e automatize o cálculo de emissões por item/lote, evidenciando suposições e fatores de emissão usados.
Além de reduzir o risco regulatório, a organização desses dados encurta auditorias, melhora a seleção de fornecedores e dá transparência ao consumidor. Etiquetas com QR Code podem expor, de forma acessível, a origem, o conteúdo reciclado e a pegada do produto — criando confiança e fidelidade.
Tendências: passaportes digitais, granularidade e fim de vida
O DPP tende a se tornar padrão de mercado em categorias-chaves. Estudos recentes apontam que a adoção é guiada por exigências regulatórias e pela necessidade de padronizar informações ao longo do ciclo de vida, inclusive no fim de vida, etapa que já concentra relevância crescente na agenda de economia circular. Para poliéster, a evolução passa por:
- Granularidade por lote: exigência crescente de vincular alegações de reciclado a lotes específicos e à esteira de transformação (pré ou pós-consumo).
- Interoperabilidade: integração com ERPs, PLM e sistemas de certificação para evitar retrabalho e inconsistências.
- Preparação para auditorias contínuas: verificação mais frequente e baseada em dados, com foco em rastros digitais e reconciliação de balanço de massa, quando aplicável.
- Transparência ao consumidor: QR Codes e portais que traduzem dados técnicos em linguagem clara, sem expor informações sensíveis.
Para quem atua no Brasil, o alinhamento com esses padrões já é decisivo para vender na UE e para atender a scorecards de grandes varejistas globais. A boa notícia é que a infraestrutura digital hoje permite coletar e consolidar dados primários da cadeia, reduzindo dependência de médias setoriais e elevando a credibilidade das alegações.
Em síntese, o mercado está migrando de promessas para provas. Em poliéster, isso significa atribuir conteúdo reciclado e emissões a um produto e a um lote, com documentação e metodologia auditáveis, e disponibilizar essas informações de forma segura a reguladores, varejistas e consumidores.
Para empresas que buscam estruturar essa jornada com rapidez e governança, a Blockforce viabiliza passaportes digitais de produto baseados em blockchain que consolidam certificações, lotes e atributos ambientais ao longo da cadeia, com acesso via QR Code na etiqueta. Complementarmente, a Calculadora de Carbono com inteligência artificial calcula inventários de GEE e a pegada de carbono por produto/lote a partir de dados primários, permitindo evidenciar Escopos 1, 2 e 3 com transparência. O resultado é ganho de credibilidade, redução de risco regulatório e auditorias mais ágeis — condições essenciais para escalar materiais circulares com segurança.