Prazo flexibilizou, mas a cobrança não. Organize 90 dias para garantir prontidão climática real.

O que mudou em Singapura e por que isso é decisivo

Os reguladores de Singapura — a Accounting and Corporate Regulatory Authority (ACRA) e a Singapore Exchange Regulation (SGX RegCo) — flexibilizaram parte do cronograma de reporte climático, mas mantiveram exigências centrais. Todas as empresas listadas continuam obrigadas a divulgar emissões de Escopos 1 e 2 a partir do ano fiscal de 2025 (FY2025). Para as companhias do índice Straits Times Index (STI) e as maiores listadas, a divulgação de Escopo 3 (cadeia de valor) entra mais cedo, a partir de FY2026. Para a maioria das demais listadas, prazos de divulgações baseadas no ISSB (International Sustainability Standards Board) foram estendidos em até cinco anos, com o Escopo 3 podendo ficar para FY2028 ou FY2030 conforme o porte. Grandes não listadas tiveram prazos postergados para FY2030, e a asseguração externa (assurance) será escalonada até FY2032.

O motivo é pragmático: pequenas e médias empresas (SMEs), que representam cerca de 84% das companhias listadas na SGX, apontaram baixa confiança para cumprir o cronograma original, citando falta de capacidades internas, tempo e processos para coleta de dados primários. Em outras palavras, o relógio ganhou alguns minutos — mas a direção é inequívoca e o padrão é global: ISSB como referência e integração progressiva com assurance.

O que medir já: dados primários, DPP por SKU/lote e inventário de emissões

O adiamento não é convite à espera. É oportunidade para construir bases sólidas. Três frentes aceleram resultados:

  1. Dados primários na cadeia: priorize informações de fornecedores críticos e operações internas. Mapeie energia, combustíveis, matérias-primas e transportes. Estabeleça padrões mínimos (granularidade, frequência, evidências) e um data owner por área.
  2. Passaporte Digital do Produto (DPP) por SKU (Stock Keeping Unit) e lote: um passaporte digital reúne origem, materiais, processo produtivo, impactos ambientais e instruções de descarte, viabilizando rastreabilidade auditável por produto. Isso cria trilhas de evidência para itens com maior materialidade de emissões e prepara sua empresa para exigências de mercado e regulatórias.
  3. Inventário de emissões: calcule Escopos 1 e 2 imediatamente e estruture a base para o Escopo 3. Use dados primários sempre que possível e metodologias compatíveis com as exigências locais e com o ISSB.

Ao consolidar evidências com rastreabilidade por produto/lote, o relato deixa de ser apenas um agregado corporativo e passa a refletir o desempenho real do portfólio — elemento crítico para exportadores, varejistas e marcas B2B.

Implicações para empresas brasileiras e grupos regionais

Para grupos brasileiros com operações, clientes ou captação de recursos na Ásia, ou que fornecem para empresas listadas em Singapura, a mensagem é clara: compradores e investidores sob SGX RegCo cobrarão dados de emissões e rastreabilidade com padrão ISSB, ainda que a obrigação formal não recaia sobre a matriz no Brasil. Além disso, o movimento de Singapura reforça uma tendência global: maior foco em dados primários, granularidade por produto e integração com processos de asseguração.

Antecipar-se reduz custo e risco: quem organiza a coleta desde já diminui retrabalho, evita dependência de fatores de emissão genéricos e constrói uma base de evidências pronta para revisão independente. Empresas brasileiras que já adotarem passaportes digitais, inventários por SKU/lote e trilhas de auditoria robustas ganharão velocidade quando novas exigências locais ou de mercados de destino avançarem.

Plano de 90 dias: três sprints com quick wins para SMEs

Estruture um plano pragmático em três sprints de 30 dias, com foco em maturidade mínima viável e resultados mensuráveis.

Dia 0–30: Diagnóstico e governança

  1. Mapeie lacunas frente aos requisitos da SGX/ISSB: escopo, dados, processos, riscos e controles.
  2. Defina papéis e responsabilidades (patrocínio executivo, PMO, TI/ESG/Operações, jurídico e auditoria interna).
  3. Priorize 10–20 SKUs/lotes de maior materialidade (volume, margem, risco reputacional) para iniciar o DPP.
  4. Padronize taxonomias e evidências mínimas: notas fiscais, certificados, consumo energético e registros de transporte.

Dia 31–60: Coleta de dados primários e cálculo de Escopos 1 e 2

  1. Implante o DPP nos SKUs/lotes priorizados para capturar origem, materiais e processo produtivo.
  2. Integre dados de energia e combustíveis das operações para calcular Escopos 1 e 2 com periodicidade mensal.
  3. Inicie o mapeamento do Escopo 3 com os 20% de fornecedores que respondem por ~80% do impacto (princípio de Pareto).
  4. Crie um repositório de evidências com trilha de auditoria para futuras revisões independentes.

Dia 61–90: Templates de relato, governança contínua e pré-assurance

  1. Gere templates de relato alinhados aos requisitos locais e ao ISSB (políticas, riscos, métricas e metas).
  2. Execute um dry run de reporte: fluxos, aprovações, consistência de dados e controles internos.
  3. Envolva desde já o auditor externo para um pre-check de asseguração: escopo, materialidade e evidências.
  4. Defina OKRs para 6–12 meses: expansão do DPP para mais SKUs/lotes, aumento de cobertura de fornecedores e melhoria da qualidade de dados.

Quick wins para SMEs

  1. Comece por energia e combustíveis (Escopos 1 e 2) nas plantas prioritárias.
  2. Padronize planilhas mínimas e conecte-as a um repositório único de evidências.
  3. Escolha 1–2 linhas de produto e pilote o DPP por lote para capturar dados primários sem atrito.
  4. Formalize uma política de dados climáticos (proprietário, frequência, evidências obrigatórias e retenção).

Como a Blockforce pode acelerar essa jornada

Para empresas que buscam soluções nessa área, duas abordagens práticas têm se mostrado eficazes:

  1. Passaporte Digital do Produto (DPP) da Blockforce: gera passaportes digitais por SKU/lote, registrando origem georreferenciada, materiais, processo produtivo, impactos ambientais e orientações de descarte. As evidências são registradas em blockchain (on-chain), formando trilhas auditáveis que reduzem risco regulatório e facilitam a asseguração.
  2. Calculadora de Carbono com IA da Blockforce: calcula inventários de gases de efeito estufa com dados primários da cadeia, automatizando Escopos 1 e 2 e estabelecendo a base para o Escopo 3, com pegada de carbono por produto ou lote quando necessário.

Uma abordagem possível envolve iniciar com uma prova de conceito (PoC, Proof of Concept) de 4–8 semanas em 10–20 SKUs ou uma linha de produto: implantação do DPP, captura de dados primários, cálculo de Escopos 1 e 2, geração de templates de relato e validação de trilhas on-chain com a equipe de compliance e o auditor externo. A partir daí, escalar por ondas, focando itens materiais e fornecedores críticos.

Singapura adiou prazos para parte das empresas, mas o rumo não mudou. Usar os próximos 90 dias para estruturar dados, processos e evidências auditáveis garante velocidade quando os prazos voltarem a apertar — e posiciona sua organização à frente do ciclo regulatório.