A exigência de dados de emissões e riscos climáticos na Califórnia deixou de ser hipótese e virou execução.
O que está em jogo com SB 253 e SB 261
A Califórnia confirmou o avanço de suas leis de reporte climático. Uma ação liderada pela U.S. Chamber of Commerce tentou barrar as regras, mas o pedido de liminar foi negado, mantendo o cronograma. Empresas que fazem negócios no estado e faturam acima de US$ 1 bilhão terão de divulgar emissões dos Escopos 1 e 2 a partir de 2026 (referentes ao ano anterior) e do Escopo 3 a partir de 2027, conforme a SB 253. Já a SB 261 exige, para companhias com receita superior a US$ 500 milhões, um relatório sobre risco financeiro climático e as medidas de mitigação e adaptação, com primeira publicação até 1º de janeiro de 2026.
O Conselho de Recursos do Ar da Califórnia (CARB, na sigla em inglês) indicou que o primeiro ciclo da SB 261 poderá aceitar análises qualitativas de cenários e evitar duplicidade com a SB 253. Ainda assim, o recado é claro: governança, estratégia, métricas e metas climáticas tornam-se parte do compliance contínuo, não apenas um relatório anual.
O gargalo real: transformar dados dispersos em evidências auditáveis
O maior desafio não é técnico de software, mas operacional de dados. O Escopo 3 — emissões da cadeia de valor — inclui transporte, viagens, compras, uso de produtos, resíduos e muito mais. Para empresas brasileiras que vendem para marcas que atuam na Califórnia, ou que operam diretamente no estado, a cobrança recai sobre dados primários, granularidade por produto/lote e trilhas de auditoria que resistam à verificação independente.
Isso implica sair de planilhas e estimativas genéricas para capturar evidências na ponta: notas fiscais, ordens de produção, listas de materiais, consumo energético por etapa, rotas logísticas, fatores de emissão específicos de processos e insumos, além de documentos socioambientais de fornecedores. Sem padronização e governança, o resultado é um inventário de gases de efeito estufa (GEE) inconsistente, caro de auditar e difícil de atualizar.
Outro ponto crítico é a consistência metodológica. Definição de limites organizacionais, escolha de fatores de emissão, tratamento de alocação e de duplicidades entre escopos exigem políticas claras e rastreáveis. Quanto mais cedo essas regras internas forem definidas, menor o retrabalho quando chegar a verificação externa.
Implicações práticas para empresas brasileiras
Para quem fornece a grupos com operações na Califórnia, ou para quem vende diretamente no mercado norte-americano, o passo a passo pragmático inclui:
- Mapear exposição regulatória: identificar clientes e unidades de negócio com presença na Califórnia e cláusulas contratuais de reporte climático.
- Estabelecer linha de base 2024–2025: consolidar Escopos 1 e 2 com dados primários e dar início ao mapeamento do Escopo 3, priorizando categorias materiais (compras, transportes, uso de produtos, resíduos).
- Engajar fornecedores críticos: criar um roteiro de coleta de dados primários com Tiers 1–3, incluindo formatos, periodicidade e responsabilidades.
- Padronizar: definir políticas de cálculo (fatores, alocação, limites) e garantir trilhas de auditoria para cada suposição metodológica.
- Integrar sistemas: conectar ERPs, sistemas fiscais e produtivos para captura automática de evidências (documentos, medições, certificados).
- Preparar governança e controle interno: estruturar comitês, papéis e revisões independentes (primeira e segunda linhas) antes da auditoria externa.
O objetivo é transformar o tema em operação recorrente, com ciclos mensais/trimestrais de atualização, evitando o “corre” anual de consolidação. A boa prática é começar no produto: atribuir pegadas de carbono a famílias e SKUs relevantes, o que acelera tanto o atendimento a clientes quanto a identificação de oportunidades de redução.
Tendências e próximos passos do mercado
Três movimentos devem guiar investimentos até 2027:
- Produto como unidade de prova: compradores internacionais pedem dados no nível de produto/lote, não apenas consolidados corporativos. Isso exige visibilidade de origem, materiais e processo, com metadados aptos à auditoria.
- Rastreabilidade com confiabilidade: redes de fornecedores complexas demandam mecanismos que preservem a integridade de dados e autoria, reduzindo disputas na auditoria e o risco de greenwashing.
- Automação do compliance: a convergência de normas (como SB 253 e SB 261) favorece relatórios modulares, reaproveitando informações para múltiplos frameworks e ciclos de verificação.
Nesse contexto, tecnologias de passaporte digital de produto ganham tração para vincular evidências a cada item comercializado. Quando ancorados em registros imutáveis, esses passaportes simplificam a checagem por terceiros e aumentam a confiança entre marcas, fornecedores e auditorias.
Como acelerar a prontidão sem inflar custos
Uma abordagem eficaz combina rastreabilidade de produto com cálculo inteligente de emissões. Passaportes digitais de produto - que consolidam origem, materiais, processo produtivo e impactos - conectam o “mundo físico” (produção, logística, insumos) ao “mundo de compliance” (inventários e relatórios). Já calculadoras de carbono baseadas em inteligência artificial ajudam a transformar dados primários em inventários de GEE e pegadas por produto ou lote, reduzindo retrabalho com fatores genéricos e ampliando a qualidade para auditoria.
Para empresas que buscam soluções nessa linha, a Blockforce atua com duas frentes particularmente relevantes: o Passaporte Digital do Produto, baseado em blockchain, que registra origem, materiais, processo e impactos ambientais com rastreabilidade de ponta a ponta; e a Calculadora de Carbono com IA, que operacionaliza inventários completos (Escopos 1, 2 e 3) e atribui pegadas de carbono a produtos e lotes usando dados primários da cadeia. Em projetos no varejo de moda (Arezzo&Co, Riachuelo, C&A e Grupo Soma/Fábula), a empresa já integrou mais de mil fornecedores e cadastrou mais de 6 milhões de produtos, estruturando trilhas de auditoria que encurtam ciclos de verificação.
O relógio corre para 2026 e 2027. Quem iniciar agora, com foco em dados primários, padronização metodológica e evidência por produto, tende a reduzir custos de auditoria, antecipar-se a exigências de clientes e transformar compliance climático em vantagem competitiva.